A lenda de Marco António

“Diz-se que foi Marco António Costa quem, perante o PEC IV apresentado por José Sócrates, terá dito a Passos Coelho que era a altura de fazer cair o Governo socialista ("ou há eleições no país ou há eleições no PSD", assim reza a lenda)  Aparentemente, Passos seguiu a primeira alternativa e votou (ao lado do CDS, PCP e BE) contra o PEC precipitando a queda do governo minoritário de Sócrates.

Marco António foi tomado pela vertigem do poder e contagiou Passos com essa vertigem, um impulso próprio de quem não sabe esperar a sua hora. Outros conselheiros de Passos (diz-se que Catroga, por exemplo), seriam a favor da aprovação do PEC, a fim de cozinhar Sócrates em lume brando, em vez de o apear repentinamente do poder.”

Ao escrever este texto, não parece que Henrique Monteiro tenha tido a intenção de desmascarar a manobra do PSD para fazer da mera hipótese da vinda da troika um facto consumado. Como sozinho não conseguia, o PSD contou com a ajuda do PCP, BE e CDS.

Ao contrário do que por aí corre, não foram apenas o PSD e o CDS que lucraram com o derrube do governo do Partido Socialista. Se os apaniguados de Passos e Portas se têm locupletado como o esbulho dos portugueses, nenhum governo antes deste esteve tão perto de transformar o país no "paraiso" que os críticos atribuem à extrema-esquerda:  A tal “terra queimada”.

Henrique Monteiro poderá continuar a especular sobre a inevitabilidade da vinda da troika no cenário da eventual aprovação do PEC IV, mas restam poucas dúvidas de que foram as ameaças do pequeno Marco António, as fanfarronadas de Catroga, as mentiras de Passos e o teatro de Cavaco Silva - "Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos" (9-03.2011) -, que precipitaram a sua vinda.

Analisadas as consequências da pressa do PSD em se apoderar do pote,  as injustiças e os sacrifícios de que os portugueses foram vitimas nos últimos três anos, Henrique Monteiro pode  filosofar até ao tédio, mas os factos demonstram que as manobras que culminaram com a não aprovação do PEC IV, perfilam-se hoje como um crime de lesa-pátria e não há especulações jornalísticas que lhes valham.
Os casos da Espanha e da Itália atestam que a vinda troika podia ter sido evitada. O resto é mesmo especulação.