quarta-feira, novembro 30, 2011

O Euro era uma coisa gira…

Houve um tempo em que a gente se metia no carro, atravessava Espanha e entrava em França sem dar por isso. As fronteiras tinham desaparecido. Os únicos sinais de que se estava noutro país eram as placas, que em vez de Fuentes de Oñoro tinham escrito España, ou France em vez de Biarritz.

Nem se parava. O contrabando das alpergatas e da pana espanhola só já existia nas histórias fantasiosas de escritores tardios. Outrora efervescente nas áreas fronteiriças, o negócio dos câmbios desaparecera por completo. O Escudo e a Peseta, que a preguiça cultural associava à funesta herança das ditaduras ibéricas, perdiam-se na memória das gerações.
Vivia-se a euforia do Euro, uma auto-estrada financeira que atravessava a Europa à velocidade da luz. Nunca os povos de países tão diferentes se sentiram tão próximos como então. O turismo popularizou-se e os estudantes cruzavam-se por toda Europa, tornando realidade os sonhos de Erasmo de Roterdão.
O Euro tornara-se uma moeda forte. Desde o seu aparecimento, tinha-se valorizado mais de 20% face ao dólar. Parecia imparável. Povos tradicionalmente avessos à influência americana, começaram a usá-lo como moeda de refúgio e nas relações comerciais. O Dólar tremeu, o que, como adiante se veria, não era admissível.
Há quem diga que foi tudo montado pela CIA, numa manobra orientada a partir de Wall Street, mas teorias houve muitas. Em Portugal, até se fez uma campanha para convencer as pessoas de que a queda do Euro tinha sido obra de um só homem: Sócrates, um dos muitos primeiros-ministros do período conturbado que se seguiu à sublevação dos capitães.
A esta distância, a tese parece ridícula, mas convém lembrar que estávamos em democracia e ainda havia liberdade de imprensa. Muita gente se convenceu, acabando por eleger o tal governo que viu na pobreza a melhor estratégia para convencer os mercados. Como os mercados não gostam de pobres, fomos expulsos do Euro.
Às vezes ainda acordo a fazer contas em euros, mas basta ligar a televisão e ver os câmbios para regressar o pesadelo: 1 dólar = 1000 escudos…

1 Comentários:

Às 30/11/11, 21:54 , Anonymous Anónimo disse...

Espetemos que Nao passe de um sonho. pmc

 

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