sexta-feira, janeiro 20, 2006

Os olhos da história


As reacções ao texto de Eduardo Lourenço (O tempo de Mário Soares) que também aqui reproduzimos, fizeram ribombar os tambores da nova direita que se auto-considera intelectual e liberal.
A vertente intelectual não se alcança no carreirismo das sebentas, como se viu, e, quanto ao liberalismo, a direita portuguesa nunca enjeitou a teta do orçamento, quer antes quer depois do 25 de Abril .

Nesta nova direita há gente que já nasceu depois do 25 de Abril e, por isso, era de esperar que fosse arejada e dispensasse o obscurantismo como arma política. Mas, como bem analisou recentemente Vasco Pulido Valente, a referência ideológica da direita portuguesa continua a ser Salazar, o que lhe confere um inequívoco certificado de origem. É por isso que o obscurantismo continua a fazer escola nas elites da direita, mesmo que a censura tenha acabado na manhã do 25 de Abril. (Terá isto alguma coisa a ver com escutas telefónicas?)

Mas o que distingue esta nova direita dos velhos sobreviventes do marcelismo é a desfaçatez com que contesta a história. Para eles Mário Soares nunca foi um homem de coragem e muito menos um grande político. O que o move é a vaidade e a soberba.
É claro que ninguém vai preso por dizer disparates, mas não é menos verdade que nenhum destes rapazes enfrentou a prisão política, ou lutou por causas mais arriscadas do que a do não pagamento de propinas.

Porém mesmo não tendo respeito por Mário Soares, era de esperar que respeitassem a verdade histórica, pois independentemente das conjunturas e resultados eleitorais, a sua dimensão há muito que ultrapassou fronteiras e fugiu ao controlo dos manipuladores da história.

1 Comentários:

Às 22/01/06, 19:27 , Blogger j disse...

Pois é, meu caro Amigo!
É mesmo por isso, que esses avatares dos antigos tempos odeiam Mário Soares e outros lutadores antifascistas. É mesmo pelo facto de serem, ainda hoje, fascistas. Assim, sem tirar nem pôr. É preciso não ter vergonha ou receio de chamar os bois pelos nomes. Eles existem e aí estão, armados em democratas, com a ousadia de tratarem sem respeito aqueles que lhes deram o direito de vomitarem as mais abjectas asneiras.
É preciso, no mínimo, tratá-los como merecem. Isto é, denunciá-los como bandalhos que são.
Levantar-se-ão, clamando que lhes nego o direito de exprimirem a sua opinião. Não lhes nego a legitimidade de opinarem. Nego-lhes a possibilidade de tentarem reescrever a História e a desfaçatez com que o fazem.

 

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