sexta-feira, outubro 28, 2005

O outro lado da barricada

Independentemente dos manifestos em contrário, uma pessoa que se candidate ao exercício de qualquer função política, seja na Junta de Freguesia ou na Presidência da República, não pode rejeitar o epíteto de político.

Fazê-lo pode parecer um exercício de confusionismo para captar algumas franjas desatentas do eleitorado, mas hoje já ninguém acredita que quem se candidata não seja político.
Se a armadilha é tão grosseira, porque a usa Cavaco Silva, que não diz uma palavra a mais e esgota a paciência do país até se decidir a falar, sabendo de antemão que corre o risco de não o levarem a sério?

A mensagem subliminar é outra: o que ele quer dizer é que não é um homem de partido, de nenhum partido. E, de facto, não é.
Independentemente das quotas que tenha pago, foi “sem querer” que chegou a Presidente do PSD (lembram-se que foi fazer a rodagem do Citroën?), mas, em termos práticos, só lá ficou enquanto foi Primeiro-ministro.

A ideia de que só são políticos os que militam nos partidos é muito redutora, mas tem feito escola entre nós e, apesar do hermetismo que o caracteriza, Cavaco Silva fez questão de a insinuar nas suas recentes intervenções.
Dir-se-á que é para cativar os independentes, mas a crispação com que Cavaco Silva reage quando alguém lhe fala no apoio dos partidos não é apenas um tique. Mau grado o esforço para se controlar, o seu indisfarçável desconforto identifica-se com a convicção dos que vêm nos partidos a origem de todas as maleitas da nossa democracia.

Há que separar as águas.
Reconhecendo embora as imperfeições do funcionamento dos partidos, a democracia não sobrevive sem eles e o Presidente da Republica não pode pôr-se do outro lado da barricada.

1 Comentários:

Às 28/10/05, 17:54 , Blogger j disse...

Já há muito pouca gente que se lembra do "antigamente". Até lhe chamam, eufemisticamente, o "antigo regime"...
Talvez nós, que não o conseguimos esuqecer, devamos recordar aos "esquecidos" que era também assim que os "dinossauros excelentíssimos" se referiam aos partidos. "Para que é que servem?" - perguntavam, então. E respondiam: "Só para aumentar a confusão..."
Pois hoje, aqueles que singraram na vida, única e exclusivamente, à custa da sua filiação partidária, são os que mais se manifestam contra os partidos.
Até podemos estar de acordo com a forma como os partidos têm evoluido, mas a democracia, tal como a conhecemos, assenta neles os seus alicerces.
São normalmente aqueles, em quem são evidentes os tiques autoritários, que mais se evidenciam na sua reiterada "independência" partidária. Eles lá sabem porquê... Têm dito tantas cobras e lagartos dos partidos, do Estado, dos poderes que ajudaram a criar, que agora sentem "vergonha" das responsabilidades que tiveram.
É desta cambada que vai sair o próximo presidente da república portuguesa?!
Agora sou eu que me sinto envergonhado. E, já agora, arrependido pelo que contribuí (muito pouco, apesar de tudo...) para esta gente chegar onde chegou.

 

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