quinta-feira, outubro 06, 2005

O cerco de Melilla

Seguindo o exemplo dos portugueses que conquistaram Ceuta em 1415, em 1497 foi a vez de Melilla cair nas mãos de Espanha.
Segundo a versão espanhola, tratou-se de uma simples recuperação uma vez que os Vândalos, os nossos antepassados que governaram a Península Ibérica na débâcle do Império Romano, teriam ocupado a região no ano 429, muito antes, portanto, de Maomé nascer e ter recebido de Alá a missão expansionista que levou os árabes ao Magreb.

Os espanhóis argumentam ainda a favor da posse de Melilla o facto desta cidade ser espanhola há mais tempo do que outras cuja espanholidade ninguém contesta, nomeadamente as que pertenciam ao Reino de Navarra que só mais tarde viria a ser integrado em Espanha.

A história dirá se têm razão para continuarem a dominar Ceuta – que nunca devolveram aos portugueses desde que Filipe II (Filipe I de Portugal) ocupou o trono nacional após o desastre de Alcácer Quibir – e Melilla, conquistada a mando do governador da Andaluzia, pouco depois da queda de Granada. Por ironia histórica, na sua fuga para Africa, os barcos do último rei Almoáda acostaram nos arredores de Melilla (1493).


Não é, pois, de agora que Melilla é a fronteira entre a Africa e a Europa. É por ali que passam os escorraçados da História.

É para ali também que convergem os deserdados dos países onde a esperança de vida diminui em vez de crescer e os bebés nascem para morrer de fome ou serem trucidados pelos exércitos tribalizados que enxameiam a Africa subsaariana.

A Europa é a única esperança de vida desta gente. Por isso saltam as valas, dilaceram os corpos nas vedações, enfrentam os bastões e as balas de borracha das polícias.
Eles sabem que têm mais direitos numa prisão em Espanha do que em liberdade nos seus países.

Não é com barreiras de arame farpado que este problema se resolve. Os países mais ricos têm de olhar com mais preocupação para a qualidade (?!) de vida dos povos do terceiro mundo.
Não adianta escamotear. A catástrofe está do outro lado da vedação.


Fontes: L’Express; El Pais; Sites das cidades de Ceuta e Melilla

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