quarta-feira, março 30, 2005

A mão (bem visível) do corporativismo

Segundo José Manuel Fernandes, “em Portugal não é preciso ser de esquerda para desconfiar do mercado e da economia liberal: há muita gente de direita que pensa da mesma maneira.”

O articulista acrescenta que esta cultura, iliberal e dominante segundo o próprio, “tanto é uma herança da Revolução – época em que até o programa do então PPD advogava o "caminho para o socialismo" –, como do salazarismo corporativista.”

Aqui discordo!
Não foi com a revolução que a direita aprendeu a ser iliberal. Foi mesmo com o salazarismo, que já morreu, e com o corporativismo que está para lavar e durar.

2 Comentários:

Às 31/03/05, 09:55 , Blogger j disse...

Liberalismo?!
Ora, vamos lá a ver se a gente se entende...
Quando eu estudei estas coisas, dizia-se que as leis do mercado supunham sempre um "comprtamento racional" de todos os agentes económicos...
Pergunto: onde é que há disto?!
Os "liberais" pretendem que o poder político os deixe à vontade a exercer o seu poder económico.
Os "direitinhas" pretendem, para além disto, que o poder político se subordine ao seu poder "corporativo".
Querem mais racionalismo que este?!

 
Às 01/04/05, 12:50 , Anonymous Anónimo disse...

Convenhamos que, liberal ou não, nenhum sistema económico funciona sem intervenção do estado.
Adam Smith, autor do primeiro tratado de economia política e pai do liberalismo, entendia que as actividades económicas deveriam poder desenvolver-se sem entraves, pois havia como que “uma mão invisível” que, de forma natural e infalível, ia rectificando os inevitáveis desequilíbrios decorrentes dessa liberdade. Todavia, dizia também que era necessário favorecer o interesse do consumidor (único fim de toda a produção), o que pressupunha, necessariamente, a intervenção do estado.
Turgot, economista contemporâneo de Smith e liberal como ele (laisser faire, laisser passer), quando ministro das finanças, aboliu o trabalho gratuito obrigatório nos campos (a famosa «corvée») e criou o imposto sobre a propriedade.
Salazar, através dos “seus governos”, não intervinha, dominava a economia do país, e sem dar cavaco às tropas.
Na minha opinião, o que está mal, no artigo de José Manuel Fernandes, é que ele compara o que não é comparável, metendo tudo no mesmo saco.
Quando, hoje, dizemos que Portugal tem uma economia liberal, estamos a dizer que as leis do País protegem ou promovem esse liberalismo, mas no quadro democrático que lhe é inerente e que engloba a protecção social, o direito do trabalho, a negociação sindical etc. etc. Estamos a dizer que essas leis são aprovadas pela assembleia dos representantes que elegemos para o efeito, e que esse representantes são passíveis da nossa sanção, através voto. Estamos a dizer que a aplicação dessas leis é assegurada por um poder judicial independente do poder político.
Ora, sob Salazar, o regime económico era tudo menos liberal! As regras jurídicas que o enquadravam seguiam os mesmos trâmites que todas as outras: - eram ditadas pelos iluminados do regime (os fachos!) e visavam, acima de tudo, manter a ordem estabelecida e assegurar os privilégios da classe dominante, por forma a garantir a perenidade do poder «em boas mãos». O mercado era desnaturado pela acção governativa, hermético, atrofiado, pobre, tudo menos liberal.
Quanto ao citado compêndio da «Organização Política e Administrativa da Nação» (que figurou na minha biblioteca de estudante) ele não era mais do que isso: um compilado das regras fundamentais em vigor, servido com uma fraseologia pomposa, para inglês ver, mas em completa discordância com a vida real de então. Dito de outro modo, havia um desfasamento total entre A FORMA E O CONTEÚDO.

Como pôde, assim, o José Fernandes dizer que a cultura política dominante tanto é uma herança da Revolução de Abril, como do salazarismo corporativista?!

 

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