domingo, março 06, 2005

Governo somos todos

Ninguém nos obriga a gostar de todos, mas dizer que os políticos – e os partidos – são todos iguais, além de ser uma atitude pouco esclarecida, é, também, de duvidoso intuito democrático.
Não há democracia sem partidos. Eles são emanações da sociedade, ainda que por vezes esta realidade custe a aceitar. São o nosso espelho e nem sempre gostamos do que vemos.

Ao depositar no governo – e nos partidos – a esperança para resolver todos os seus problemas e responsabilizá-lo por tudo o que de mau lhe acontece, a nossa sociedade demonstra estar na infância da democracia.

Até a comunicação social contribui para veicular esta mensagem de desresponsabilização. Não é raro os repórteres confrontarem o Ministro da Administração Interna com questiúnculas de esquadra e telefonarem ao Ministro do Ambiente por causa da habitual descarga, ali para os lados de Leiria.

Nunca reparam no ar dos autarcas ao verem os peixes de boca aberta nas suas ribeiras? Raramente se sabe quem foi, mas a ordem da descarga não deve ter partido do Terreiro do Paço.
Neste país só o governo é responsável.
Quantas vezes nos aproximámos de um balcão – mesmo sem ser da função pública – e tivemos de andar de Herodes para Pilatos até aparecer alguém disposto a assumir a responsabilidade de nos atender?

Sabem porque não há tradição de jurados em Portugal? Porque é mais fácil deixar tudo nas mãos de um juiz que, por sua vez, escreve dúzias de páginas para justificar a condenação de um energúmeno a três anos de pena suspensa, não vá alguém responsabilizá-lo.

Como não há separação entre o mundo dos políticos e o dos cidadãos, as responsabilidades também não são muito distintas.

Pegue-se em qualquer área. Os políticos têm culpa no descalabro da educação. E os cidadãos estão inocentes? Será que a percentagem do abandono escolar é maior do que a percentagem dos pais que não acompanham a educação dos filhos?

1 Comentários:

Às 07/03/05, 10:04 , Blogger j disse...

Belo post, caro Zé! Muito bom!
Isto daria pano para muitas mangas, mas o que não há dúvida é que os sectores mais retrógrados e reacionários da sociedade têm levado a cabo uma campanha de autêntico "terror" contra tudo quanto cheire a político. Ele são os ministros que não prestam, ele são os autarcas que são incompetentes e corruptos, ele são os funcionários que são preguiçosos...
E nós? Os cidadãos sobre quem recai a responsabilidade de os escolher? Nós somos todos inocentes?
Só os outros fogem fraudulentamente aos impostos... E nós? Solicitamos sempre a facturita dos serviços que nos prestam? Não estaremos sempre prontos a "desviar para canto"?
Os professores não prestam.
E nós? Teremos a coragem para afrontar a situação caótica de muitas escolas onde os nossos filhos deveriam ser formados?
Não há nenhum partido onde haja gente capaz.
Então não seria altura de os "críticos" se atreverem a criar um novo partido onde se possam organizar todos os "competentes" deste país?
Que tristeza!
Foi para isto que muitos de nós lutaram pela democracia?!
Foi para dar voz a estes energúmenos que pretendem enviar para o largo do Rato a fotografia de Freitas do Amaral, retirando-a do partido que ele ajudou a criar?
A quem é que nós ouvimos dizer que "só os burros não mudam de opinião"?!
Fico-me por aqui, para não entornar o caldo todo...

(JCM)

 

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